Saturday, December 06, 2008

Auditorias e vigilância mútua

Cada membro do governo tem que ter também uma função de auditoria, ao mais alto nível. A auditoria deve fazer a parte de todos os responsáveis, de todos os governantes, desde o Presidente da República até aos ministros. E auditar um serviço não é ir lá acompanhado do chefe desse serviço. É ir lá sozinho (e o chefe do serviço deve aceitar isso e não se ofender).

Ir lá sozinho. Ver como ele está a funcionar, não abrir conflito na hora e depois conferir aquilo que se viu com o responsável da tutela ou do serviço.
Auditar são visitas de trabalho, de surpresa, tanto aos locais de trabalho que levantam problemas como aos que não levantam.

É preciso sair à rua, não trabalhar só no gabinete. Sair sem ser acompanhado pelo ministro da tutela ou pelo Director do serviço respectivo.

Ao fazer ele próprio auditorias (pelo menos uma vez por semana durante todo o tempo do mandato), o governante está a dar o exemplo. Ninguém mais vai ficar parado.

Auditar é também ser auditado, observado em ambiente informal por todos.

Se não o fizer. Se delegar nas inspecções gerais, está a transmitir a imagem de que essa actividade é imprópria de uma entidade superior e pode ser delegada. Ninguém a fará mais como deve ser.
Mas auditar não é ignorar as chefias. É apenas recolha de informação para ser depois analisada e transmitida de volta, com correcções, pelas vias competentes.

Os nossos governantes estão amordaçados. Políticos de topo aprisionados aos seus colaboradores, a Secretários de estado e a Directores de Serviços

Só visitam um serviço se forem acompanhados pelos respectivos chefes. Têm que anunciar antes de visitar. Isto tolhe completamente a sua qualidade de movimentos e a sua percepção da realidade.

Faz lembrar os reis de antigamente, que demoravam meio dia a vestir-se porque tinham tais tarefas distribuídas a altos funcionários a que chamavam de camareiros. Um vestia-lhes as calças, outro a blusa, numa ordem imutável e muito longa. E tinha que ser este ritual diário porque, se não fosse isto, os camareiros iriam protestar violentamente.
Do mesmo modo o imperador do Japão tinha um ritual diário complicadíssimo para fazer, de que não podia afastar-se nem um minuto. Freud traça isso muito bem no seu livro Totem e Tabu.
Isto acontecia e acontece ainda com todos os líderes, sujeitos a um protocolo pesadíssimo e alienante.

Esta auditorias e outras interevnções informais e de surpresa, devem ser uma fonte preciosa de informação para os governantes, uma fonte preciosa de mobilização para os serviços e para o contacto entre uns e outros.
Uma fonte preciosa de contacto entre os governantes e as regiões que governam. Entre governantes e covernados, chefes e subordinados.

É por causa dessa vigilância e observação mútuas que a qualidade de um serviço se mede também pela qualidade do seu pessoal auxiliar. Não pode haver um serviço bom em que o pessoal auxiliar seja mau.
Isto porque a dinâmica do serviço passa precisamente por este tipo de pessoas. Um bom serviço é aquele em que dirigentes e dirigidos conseguem funcionar como um todo, e também através destas pessoas.

Uma vez, depois de eu ter mostrado o Internamento do Centro Regional de Alcoologia do Sul a um estrangeiro, a enfermeira chefe interpelou-me porque gostava de ter sido previamente avisada. Disse-lhe que não e que aquelas visitas iriam tornar-se rotineiras, diárias, simples e sem pré-aviso. Eu estava a auditar o meu próprio serviço. A observar nos corredores, nos vãos de escadas, por rotina, sozinho e fazendo-me distraído. Também tinha um gabinete mas sempre o usei pouco.


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