em SÁBADO,
9 DE MARÇO DE 2013, António
Costa, em menos de 3 minutos, disse tudo, na "quadratura do círculo".
E aqui está textualmente o que ele disse (transcrito manualmente):
“A situação
a que chegámos não foi uma situação do acaso. A União Europeia financiou
durante muitos anos Portugal para Portugal deixar de produzir; não foi só nas
pescas, não foi só na agricultura, foi também na indústria, por ex. no
têxtil. Nós fomos financiados para desmantelar o têxtil porque a Alemanha
queria (a Alemanha e os outros países como a Alemanha) queriam que abríssemos
os nossos mercados ao têxtil chinês basicamente porque ao abrir os mercados ao
têxtil chinês eles exportavam os teares que produziam, para os chineses
produzirem o têxtil que nós deixávamos de produzir. E portanto, esta ideia de
que em Portugal houve aqui um conjunto de pessoas que resolveram viver dos
subsídios e de não trabalhar e que viveram acima das suas possibilidades é uma
mentira inaceitável. Nós orientámos os nossos investimentos públicos e privados
em função das opções da União Europeia: em função dos fundos comunitários, em
função dos subsídios que foram dados e em função do crédito que foi
proporcionado. E portanto, houve um comportamento racional dos agentes
económicos em função de uma política induzida pela União Europeia. Portanto não
é aceitável agora dizer… podemos todos concluir e acho que devemos concluir que
errámos, agora eu não aceito que esse erro seja um erro unilateral dos
portugueses. Não, esse foi um erro do conjunto da União Europeia e a União
Europeia fez essa opção porque a União Europeia entendeu que era altura de
acabar com a sua própria indústria e ser simplesmente uma praça financeira. E é
isso que estamos a pagar! A ideia de que os portugueses são responsáveis pela
crise, porque andaram a viver acima das suas possibilidades, é um enorme
embuste. Esta mentira só é ultrapassada por uma outra. A de que não há
alternativa à austeridade, apresentada como um castigo justo, face a hábitos de
consumo exagerados. Colossais fraudes. Nem os portugueses merecem castigo, nem
a austeridade é inevitável. Quem viveu muito acima das suas possibilidades nas
últimas décadas foi a classe política e os muitos que se alimentaram da enorme
manjedoura que é o orçamento do estado. A administração central e local
enxameou-se de milhares de "boys", criaram-se institutos inúteis,
fundações fraudulentas e empresas municipais fantasma. A este regabofe
juntou-se uma epidemia fatal que é a corrupção. Os exemplos sucederam-se. A
Expo 98 transformou uma zona degradada numa nova cidade, gerou mais-valias
urbanísticas milionárias, mas no final deu prejuízo. Foi ainda o Euro 2004, e a
compra dos submarinos, com pagamento de luvas e corrupção provada, mas só na
Alemanha. E foram as vigarices de Isaltino Morais, que nunca mais é preso. A
que se juntam os casos de Duarte Lima, do BPN e do BPP, as parcerias
público-privadas 16 e mais um rol interminável de crimes que depauperaram o
erário público. Todos estes negócios e privilégios concedidos a um polvo que,
com os seus tentáculos, se alimenta do dinheiro do povo têm responsáveis
conhecidos. E têm como consequência os sacrifícios por que hoje passamos.
Enquanto isto, os portugueses têm vivido muito abaixo do nível médio do
europeu, não acima das suas possibilidades. Não devemos pois, enquanto povo,
ter remorsos pelo estado das contas públicas. Devemos antes exigir a eliminação
dos privilégios que nos arruinam. Há que renegociar as parcerias
público--privadas, rever os juros da dívida pública, extinguir organismos... Restaure-se
um mínimo de seriedade e poupar-se-ão milhões. Sem penalizar os cidadãos. Não
é, assim, culpando e castigando o povo pelos erros da sua classe política que
se resolve a crise. Resolve-se combatendo as suas causas, o regabofe e a
corrupção. Esta sim, é a única alternativa séria à austeridade a que nos querem
condenar e ao assalto fiscal que se anuncia."