Friday, October 31, 2008


Esta vale a pena ler, divulgar e assinar a Petição no fim do e-mail...


(link para a petição no fim do texto…divulguem s.f.f.)
Assalto a Lisboa


Quase vinte anos a escrever constantemente contra as inúmeras tentativas de expropriar aos cidadãos de Lisboa a frente ribeirinha do Tejo para a entregar a interesses privados ou a obras públicas inúteis têm-me ensinado que este será sempre um combate de retaguarda, recuando sucessivamente de trincheira em trincheira, sem perspectivas de vitória no final.
Num mundo normal (nem sequer num mundo perfeito), numa cidade como Lisboa - que tem o luxo de ter 14 km de estuário de rio, que, além do mais, representam o seu maior património histórico de referência - nada seria consentido fazer que pudesse comprometer aquilo que é o domínio público mais importante da cidade e o seu traço marcante decisivo. O rio seria de Lisboa e de ninguém mais, porque Lisboa sem o rio será apenas uma paisagem em degradação acelerada.
Mas nós não vivemos num mundo normal. Nós vivemos numa democracia em que os interesses privados passam tranquilamente à frente do interesse público, com sucessivos pretextos que, olhados de perto, não passam de um embuste. É por isso que, mesmo contra toda a esperança, é preciso não desistir de defender Lisboa contra os seus predadores - porque eles nunca desistirão das suas intenções.
Hoje, volto assim a um tema de que já aqui falei duas vezes, a última das quais a semana passada: o projecto escandaloso, já aprovado pelo Governo, de erguer um muro de contentores na zona de Alcântara, podendo ocupar até 1,5 km de frente de rio, com uma altura de 15 metros - o equivalente a um prédio de quatro andares. Este caso, aliás, vem demonstrar que, pior ainda do que um mercado desregulado por falta de intervenção do Estado - que subitamente tanto preocupa José Sócrates - é um mercado regulado pelo favor político do Estado, como sucede entre nós, de forma cada vez mais chocante.
A 'Nova Alcântara', como pomposamente lhe chama José Sócrates, é uma obra prejudicial à cidade de Lisboa, inútil e desbaratadora de dinheiros públicos, com todo o aspecto de ser ilegal e que levanta fundadas suspeitas de favorecimento negocial inadmissível.
É devastadora para a cidade, porque, além de uma extensa faixa de rio, nos vai roubar um dos privilégios únicos que Lisboa tem: a possibilidade de ver atracados ao seu centro os navios de passageiros cuja imagem faz sonhar milhões de pessoas no mundo inteiro. Nunca mais aí veremos navios tão emblemáticos como o 'Queen Mary II' ou o imenso 'Sovereign of the Seas', empurrados para a periferia de Santa Apolónia e substituídos por uma muralha de quilómetro e meio de contentores. Nem rio, nem navios: uma montanha de caixotes de ferro, empilhados uns sobre os outros.
Mas o roubo do rio não se fica por aí: aproveitando o balanço e a deslocação do terminal de navios de passageiros da gare onde estão os painéis de Almada Negreiros para o extremo oriental da cidade, o Porto de Lisboa esfrega as mãos de contente e prepara-se para dar cumprimento à sua mais recorrente ambição: a construção imobiliária à beira-rio.
Deixa-se a gare de Alcântara e os painéis de Almada para os contentores e vai-se fazer em Santa Apolónia, em cima do rio, mais uma barreira de 600 metros de comprimento e outros 15 a 20 de altura, para albergar uma nova gare e, já agora, um centro comercial e um hotel... para os passageiros dos barcos, com camarote pago a bordo. E há outro dano, ainda: durante seis anos, o governo vai lançar mãos à obra de enterrar a via férrea existente, adaptando-a à necessidade de escoar um milhão de contentores a partir do centro da cidade. Num ponto crucial de entrada e saída de Lisboa, vamos ter um pandemónio instalado durante vários anos, para conseguir fornecer as acessibilidades tornadas necessárias pela localização errada do terminal de contentores.
Nessas obras, vai o governo gastar para cima de 200 milhões de euros, através da CP e da Refer, de forma a tornar viável um negócio privado que é, além do mais, totalmente inútil. Lisboa tem capacidade subaproveitada para receber contentores - mas não ali e justamente na zona oriental, para onde querem mandar os navios de passageiros. Aliás, em Alcântara, vai ser ainda necessário dragar o rio, porque o seu fundo não assegura o calado dos navios que para ali se querem levar para despejar contentores. E, quando tanto se fala em descentralização, é notável pensar que o Estado quer investir 200 milhões para trazer contentores para o centro da capital, quando ali ao lado, em Setúbal, existe um porto perfeito para isso e cuja capacidade não aproveitada é de 95%! E isto para já não falar em Sines...
Tão absurdo projecto só pode ser fruto de uma imbecilidade inimaginável ou... de uma grande, grandessíssima, negociata. Ponham-me mais os processos que quiserem, mas isto eu devo à minha consciência dizer: o negócio que o governo acaba de celebrar para Alcântara com a Liscont/Mota Engil, aprovado pelo Decreto-Lei nº 188/2008, de 23 de Setembro, tem de ser investigado - pela Assembleia da República, pelo Tribunal de Contas, pela Procuradoria-Geral da República. É preciso que fique claro do que estamos a falar: se de um acto administrativo de uma estupidez absoluta ou de mais um escândalo de promiscuidade político-empresarial.
Em 1984, o Decreto-lei n.º 287/84 estabelecia as bases para a exploração do Terminal de Contentores de Alcântara, com as seguintes condições: área de ocupação restrita; atracagem apenas permitida a navios que, pelo seu calado, não pudessem acostar a Santa Apolónia; prazo de exploração de 20 anos, e concessão mediante concurso internacional. Com estas condições, apenas uma empresa - a Liscont - se apresentou a concurso e tomou a exploração, que rapidamente se revelou deficitária. Em 1995, salvo erro, a Liscont é comprada pela Tertir, que vem a obter do Governo, nos anos seguintes, alterações ao contrato, que de todo subvertiam as regras do caderno de encargos do anterior concurso internacional: mais área de ocupação, possibilidade de acostagem de todo o tipo de navios e mais dez anos de prorrogação do prazo, agora fixado até 2014. Em 2006, oito anos antes de expirar o prazo da concessão, a Tertir é, por sua vez, comprada pela Mota-Engil, por um preço anormalmente elevado face à perspectiva de negócio futuro. Mas, em Abril deste ano, sem que nada o fizesse prever ou o aconselhasse em termos de interesse público, fica-se a saber que a concessionária obteve do Governo nova revisão extraordinária do contrato, com as seguintes alterações: alargamento da capacidade de descarga para mais do triplo; aumento da área de ocupação para mais do quíntuplo; manutenção das taxas, já reduzidas, de operação; e prolongamento do prazo de concessão por mais 27 anos (!), até 2042. Tudo sem concurso público, tudo negociado no segredo dos deuses, tudo perante o silêncio atordoador de António Costa, presumido presidente da Câmara de Lisboa. E, finalmente, em Setembro passado, através do citado Decreto-lei 188/2008, fica-se a saber que o Governo ainda se disponibiliza para investir mais de 200 milhões de euros para garantir à Liscont/Tertir/Mota-Engil as obras necessárias a garantir o escoamento da sua capacidade triplicada de movimento. Imaginem: eu tenho um pequeno restaurante à beira-rio, que não é viável, por falta de espaço e de acessibilidades, e cuja concessão a lei prevê que dependa de concurso público e só dure vinte anos. Vem o governo e, de uma assentada, autoriza-me a triplicar o espaço, prorroga-me o prazo de concessão de modo a que o meu negócio acabe garantido por um total de 57 anos e sem aumento de renda, disponibiliza-se para me fazer e pagar as obras de acessibilidade necessárias ao sucesso do restaurante... e tudo sem concurso público, negociado entre mim e eles, no resguardo dos gabinetes. É ou não é fantástico?
E é assim que se trata Lisboa. É ou não é escandaloso? E o que fazemos, ficamos quietos? Pedaço a pedaço, eles dão tudo o que é nosso, à beira-rio: um quilómetro e meio de frente à Mota-Engil, seiscentos metros ao Porto de Lisboa, um quarteirão no Cais do Sodré para qualquer coisa da observação da droga, outro quarteirão para o Hotel Altis, o CCB para a Fundação Berardo, um quarteirão mais para a Fundação Champalimaud e a Casa dos Bicos para a Fundação Saramago.

Aqui fica o Link de acesso à petição à Assembleia da Republica contra a ampliação do Terminal de contentores de Alcântara.

http://www.gopetition.com/online/22835.html

Por favor divulguem pelos vossos contactos.

Sunday, October 26, 2008

José Sócrates quer Elisa Ferreira na Câmara do Porto. Eu cá votaria em Rui Rio, e em António Costa para Lisboa, se ele se sair bem do escândalo dos contentores, para que ele acabe por sanear a Câmara e ponha fim ao escândalo dos ganhos dos administradores das empresas municipais.

O ser humano (e ainda mais os grupos humanos) tende sempre a um abuso de poder e só pode ser contido pelo poder dos otros. Daí que em casos como prisões, internatos, internamentos psiquiátricos e de drogas, seja sempre necessária uma vigilância muito especial.
O que fazem Sarkosy, Durão Barroso e Angela Merkel nas sua constabtes deslocações? Porque não explicam aquilo que pretendem fazer no que respeita à crise?

Pretendem todos uma reforma profunda do sistema financeiro. Alguém sabe o que isto é?

Movimento de refundação do sistema financeiro. Alguém sabe o que isto é?

De modo geral parece que se caminha para um capitalismo mais intervencionado, mas com muito autoritarismo e invertezas.

Sunday, October 19, 2008

Copos - quem decide és tu




O IDT continua sem acertar nenhuma. 13 médicos, ou mais, segundo certas notícias, pediram para sair, alegando indefinição de políticas e falta de condições de trabalho: que no IDT muitas vezes são os psicólogos a administrar a medicação, que há tráfico de metadona e de subutex e, acrescento eu, programas de metadona eternos.

O Programa Porto Feliz, da Autarquia do Porto, feito em colaboração com o IDT, foi dos poucos programas de prevenção a tratamento bem sucedidos, que tirou cerca de 500 toxicodependentes da rua. Foi muito mais bem sucedido do que qualquer programa com os mesmos objectivos de outra autarquia.

Como é da autoria de Rui Rio, um autarca do PSD, e só pode ser por isso, O IDT ameaça pará-lo.

Por último, e a pior de todas, aparece esta maravilha de Prevenção Primária, dirigida a jovens entre o 14 e os 20 anos, feita em parceria entre a Cruz Vermelha Portuguesa e o IDT: “Copos, que decide és tu!”

"Título: CVP e IDT juntos no combate ao álcool Data: 13-10-2008
Fonte: jornalbriefing.iol.pt

CVP e IDT juntos no combate ao álcool

«Copos - quem decide és tu» é o tema do projecto que a Cruz Vermelha Portuguesa em parceria com o Instituto da Droga (IDT) e da Toxicodependência, vão apresentar na próxima semana. Na origem desta iniciativa nacional, que tem como target a faixa etária entre os 14 e os 20 anos, está uma acção de prevenção e sensibilização sobre o consumo abusivo de álcool.
O projecto «Copos - quem decide és tu», é desenvolvido pela Juventude Cruz Vermelha e supervisionado pelo Instituto da Droga e da Toxicodependência. Para além de traçarem os objectivos da campanha para o próximo ano, os responsáveis do projecto vão ainda anunciar os dados de um estudo revelador do nível de informação dos jovens portugueses sobre esta matéria." fim de citação.

Só foi divulgado o título da campanha que, no entanto, é esclarecedor: Os técnicos do IDT, que trabalham numa linha muito parecida com que que defende a legalização das drogas, e que espalham informações de tipo modo de usar, acham agora que os jovens dos 14 aos 16 anos devem decidir se bebem álcool ou não, num país onde este consumo está proibido até aos 16 anos, e devia estar até aos 18.

Impagável, este IDT, e esta Cruz Vermelha que vai atrás dele. Seria para rir se não mexesse com a vida de milhões de jovens e com a segurança de todos nós. Assim, terá péssimas consequências. Mais vale substitur o IDT por coisa melhor.

Saturday, October 11, 2008

Uma comissão à portuguesa. Do tamanho do Conselho de ministros e sem nenhuma capacidade de gestão ou executiva

Há dias estive a ler notícias sobre reforma da Saúde mental, no sítio do Alto Comissariado da Saúde (http://www.acs.min-saude.pt/).

Na página relativa aos comentários haviam duas frases chamativas:
Ainda não há comentários para esta notícia.
Seja o primeiro a comentar usando o formulário em baixo.

Depois de ter feito e enviado um comentário resumido, um texto informava-me que ia ser lido primeiro por alguém do Alto Comissariado e que seria publicado se estivesse bem.
Foi logo censurado, pelo que vou ter que fazer um comentário mais completo neste blogue
Este é o texto do site do Alto Comissariado da Saúde, referente ao Plano Nacional de Saúde mental:
“Foi publicada, em Diário da República, a 6 de Março de 2008, a Resolução do Conselho de Ministros n.º 49/2008, que aprova o Plano Nacional de Saúde Mental para o período de 2007 a 2016.

O Plano constitui um instrumento fundamental para a concretização de uma estratégia nacional a ser implementada de forma multi-sectorial por parte de várias entidades ministeriais. A sua coordenação ficará a cargo do Alto-Comissariado da Saúde, através de um coordenador nacional.

A Resolução cria ainda a Comissão Técnica de Acompanhamento da Reforma da Saúde Mental, que visa assegurar a cooperação multi-institucional entre as diversas entidades com atribuições nesta área. A Comissão é presidida pelo presidente do Conselho Nacional de Saúde Mental e integra:

O coordenador nacional do Plano;
Quatro membros a designar pelo Alto-Comissário da Saúde, de entre pessoas titulares de relação jurídica de emprego público;
Os coordenadores dos gabinetes técnicos de saúde mental, previstos no n.º 2 do artigo 5.º do Decreto-Lei n.º 35/99, de 5 de Fevereiro;
Um representante da Unidade de Missão dos Cuidados Continuados Integrados;
Um representante da Presidência do Conselho de Ministros;
Um representante do Ministério da Defesa Nacional;
Um representante do Ministério da Administração Interna;
Um representante do Ministério da Justiça;
Um representante do Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social;
Um representante do Ministério da Educação;
Um representante do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior. “ Fim de citação

Que eu saiba, até agora, este mini-conselho de ministros não produziu ainda nada, a não ser alguma de fusão de instituições.

Esta Comissão Técnica não tem nenhum representante dos utentes e, a avaliar pelo trabalho já feito, ninguém a trabalhar a tempo inteiro (nem mesmo o coordenador nacional). Muitas destas pessoas não dedicarão meia hora por mês a este assunto e também não têm quem as informe.

Nem o site nem a Comissão informam nada sobre o andamento dos trabalhos de reestruturação de serviços. Não existe nenhum relatório de progresso.

Não se criou nenhuma comissão científica independente que publique um estudo sobre a transferência de doentes entre hospitais psiquiátricos (sempre perigosa e problemática). Por exemplo um trabalho universitário que monitorize este assunto.
Vejamos agora os cargos do próprio Coordenador Nacional, segundo o CV publicado pelo Diário da República:

José Miguel Barros Caldas de Almeida é:
1. Professor Catedrático de Psiquiatria e Saúde Mental da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa desde 1992.
2. É Director da Faculdade de Ciências Médicas desde Março de 2007
3. É Director do Departamento de Psiquiatria e Saúde Mental do Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental desde 2006.
4. Foi nomeado em 2006 Presidente da Comissão Nacional para a Reestruturação dos Serviços de Saúde Mental, tendo coordenado a elaboração do Plano Nacional de Saúde Mental.

Será que estes quatro cargos não são incompatíveis?
Qual a carga horária e a remuneração de cada um deles?
Não seriam melhor desempenhados por 4 pessoas diferentes?

É por causa de coisas como estas que se não se forma nenhuma elite em Portugal. São dados poderes desmedidos a uns, sempre os mesmos, que os aceitam sabendo que não podem cumprir eficazmente as suas atribuições, e a outros cortam-se-lhes as pernas.

É previsível que a reforma de saúde mental se limite a assuntos que poupam dinheiro, tais como fusão de serviços que, no entanto, não deverá traduzir-se em aumento de produtividade nem em melhoria de qualidade. No entanto, ou muito me engano ou nada se fará que aumente despesa ou que crie novos serviços.

Antes, a degradação irá continuar.

E a propósito, este Alto Comissariado não duplica muitas das funções da Direcção Geral da Saúde?

Thursday, October 02, 2008

Qualquer grupo humano dominante, se for deixado sozinho e sem escrutínio, tende a abusar. Desde os gestores dos grandes bancos, até aos médicos, guardas prisionais, etc.
A propósito de Portugal não ter progredido com a ajuda europeia:

A União Europeia deveria ter exigido que as instituições portuguesas se transformassem primeiro, se tornassem eficazes e democráticas, antes de ter dado os fundos a Portugal.
 
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