Monday, September 01, 2008



LEITURAS DE FÉRIAS: Gomorra, de Roberto Saviano

Roberto Saviano, o autor de “Gomorra”, best-seller internacional, nasceu em 1979, tendo agora 28 ou 29 anos.

Teve a sorte de ter um pai que lhe transmitiu coragem e amor pelas pessoas. Motorista de ambulância, uma vez recusou-se a deixar abandonado um rapaz ferido pela Gomorra, tendo sido gravemente espancado e obrigado a mudar de país. Roberto, depois de ter escrito este livro, teve de recorrer a protecção policial, que, provavelmente, ainda perdura.

A Gomorra é a obsessão de Saviano, que pratica um estilo de observação em que se mete dentro das situações para melhor as compreender. Por exemplo, fez-se empregado de um chinês no Porto de Nápoles, tendo participado marginalmente em acções de contrabando; fez-se operário da construção civil; visitou lixeiras; assistiu em primeira mão a crimes; interceptou comunicações da polícia; viajou por todos os locais de acção da Camorra, na região de Nápoles, em Roma, na Escócia; acompanhou de perto as suas acções legais e ilegais, entre tantas outras coisas, para compreender melhor as condições de vida e de trabalho destas pessoas e as histórias e práticas da Camorra

Parecido, em Portugal, só conheço o psicólogo Luís Fernandes, (cujas ideias sobre a liberalização das drogas não compartilho), mas que foi viver para o Bairro do Aleixo, no Porto, para escrever a sua tese sobre drogas.

Ao mesmo tempo que pratica esta observação participante e activa, Saviano faz uma viagem interior de que também nos documenta.

Saviano divulgou para todos os leitores que agora se vende cocaína de uma forma liberalizada.

A Camorra (de que temos associações semelhantes, mais ou menos desenvolvidas, e modos de pensar semelhantes) em todo o mundo, pratica o liberalismo mais desenfreado e defende 3 conceitos: negócio (seja do que for e sem regras); lucro e competição.

Calar a boca aqui não é tão simples como a Omertá siciliana. É mais “este problema não é meu” “it’s not my business”. Só sou responsável pelo que faço, e não pelo uso que as outras pessoas dão àquilo que eu faço. Um traficante de droga julga não ser responsável pelo uso que os outros fazem da droga que ele vende.

Passa-se o mesmo com a observação silenciosa que muitos alemães contemporâneos de Hitler praticavam em relação àquilo que ele fazia: não olhavam, não investigavam, não denunciavam, fechavam os olhos. It’s not my business.

Isto acontece ainda com muita gente perante qualquer situação de constrangimento ou violência. Afastam-se para não presenciar mais nem discutir mais o assunto, o que, de certo modo é legítimo. O pior é quando a violência vem ter com eles, os assalta e os invade, como aconteceu no país Basco com a ETA, e na região de Nápoles com a Gomorra. Aqui não é possível fugir e são raros aqueles que têm a coragem de denunciar o que vêem, como o Padre Dom Pepino Diana, o autarca António Nugnes, que pagaram com a vida as suas denúncias, e agora Roberto Saviano.

Um livro de leitura obrigatória para que quer saber mais sobre poder e corrupção.

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