Sunday, April 22, 2007



Vasco Pulido Valente, no Público de 21 de Abril, diz estas frases lapidares, que dizem muito a quem, como eu, andei nas guerras da democracia, antes do 25 de Abril:

“Em Portugal, a existência de uma ditadura impunha, na prática, a escolha de um único lado. Não se podia ser contra os comunistas pela razão primitiva e óbvia de que o regime perseguia e prendia os comunistas. Não houve ninguém, ou quase ninguém, com um resto de consciência moral, que, numa altura ou noutra, não caísse neste buraco: o buraco sem fundo do antifascismo. Sair dele era muito difícil e muitos só saíram muito depois do 25 de Abril.

Por mim, gastei esforçadamente uma dúzia de anos no trabalho inglório de varrer a tralha política e teórica da minha cabeça. É uma parte da minha vida que se estragou e que não volta. Sou um filho da Guerra Fria”.

Termina com um toque de grande pessimismo de quem, provavelmente, nunca esteve tão bem nem tão inteligente como agora. Pena que o Público não deixe transcrever o texto na totalidade. Transcrevo de outro blogue:

“A democracia portuguesa trouxe uma exagerada esperança de reforma e decência. Ao começo, mesmo a seguir ao PREC, nada parecia impedir que se fizesse um país, sem a miséria, a corrupção e a complacência do costume. Por isto e por aquilo, não se fez. Portugal conservou os seus velhos vícios, sem adquirir novas virtudes. Na minha última encarnação sou, prosaicamente, um filho da democracia falhada. Como escreveu o homem, a velhice é um naufrágio. Comigo, um naufrágio que às vezes não acho exclusivamente pessoal. Mas são com certeza momentos de megalomania. A verdade é que já não pertenço a esta história. O meu interesse é forçado, a minha presença é, pelo menos para mim, gratuita. Mas, por enquanto, não há remédio senão persistir”



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