Sunday, July 03, 2005

Os nossos notáveis desprezam o nosso povo



Os nossos notáveis desprezam o nosso povo
A música popular aparece como música pimba que, diga-se de passagem, vende muito mais do que a música mais cultural, progressista ou de intervenção.
Alguns cantores populares têm muito mais sucesso do que alguns cantores mais politicamente correctos
Os romances populares apresentam-se dissociados da literatura mais erudita.
E como resultado disso a vida cultural portuguesa apresenta-se dissociada entre uma vida cultural erudita e uma vida cultural popular. A primeira não puxa pela segunda mas aparece em negação em relação com ela.
Portugal é, assim, um país dissociado, que, sendo uma coisa, pretende parecer que é outra.


A peregrinação a Fátima, a pé, exprime bem o atraso deste país e o seu estatuto de dissociado, no seu apoio aos peregrinos. O perigo de atropelamento é uma constante; lixo por todo o lado! Falta de áreas de descanso, a não ser no caminho a partir de Lisboa que, por acaso, nem deve ser o mais praticado.
Falta tudo: vias pedonais e passeios seguros nas bermas das estradas, para as pessoas andarem confortavelmente, respeitando os seus costumes e tradições; áreas de descanso e merenda, vias alternativas para quem pretende fazer caminhos mais perto da natureza, passeios em Fátima, acessos para deficientes.
Falta também uma informação e um sentido histórico do evento, e uma oferta turístico cultural na própria vila, com preservação do seu centro histórico, oferta de cultura, gastronomia e tradições locais, em vez de ser um bazar gigante de quinquilharia.
Esta vila ganhou fortunas à custa dos peregrinos e trata-os tão mal!
A Galiza ganhou notoriedade com os Caminhos de Santiago. Em Fátima falta um poderoso movimento cultural a favor deste evento e desta peregrinação, acredite-se ou não no milagre!



A busca energética, por parte da China, e a reacção americana, correm o risco de destabilizar definitivamente o planeta.






2 comments:

Anonymous said...

Decretada a antecipação da ruína, há que obedecer-lhe? Porquê a antecipação do esmorecer?

Conhecemos a vida senão pelo avesso. A única vida vivível era a do outro lado, que não o nosso. Do lado dos nossos incontáveis anos de infortúnio e dos nossos instantes apreensíveis de felicidade, encontramo-nos sem saber onde estava o avesso e o direito. Não nos atrevemos sequer a imaginar, com medo, talvez, do que sentíamos ser esgotante. Havia música e foguetes, e a própria visão incerta era todo o amor.

Tenho vontade de saborear uma e outra vez esse prazer esboçado. A janela está toda a aberta...

_____________

No, no déjéis cerradas
las puertas de la noche,
del viento, del relámpago,
la de lo nunca visto.
Que estén abiertas siempre...

(Pedro Salinas, La Voz a Ti Debida)

Anonymous said...

Rectificando o 1º parágrafo:

Decretas a ruína, porquê obedecer-lhe? Porquê esse sentimento de inevitabilidade?

 
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